quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não tropece na Língua: Concordância Nominal...

É PROIBIDO... É PRECISO...

Tivemos na semana passada uma orientação ou norma gramatical no

seguinte sentido: os adjetivos BOM, NECESSÁRIO, PRECISO e PROIBIDO,

entre outros, em função predicativa e antepostos ao sujeito, ficam

invariáveis (ou seja, no masculino singular) quando o sujeito da oração

constitui-se de substantivo usado de forma indeterminada, de modo vago

ou geral, portanto sem artigo definido. Temos abaixo alguns exemplos:

1) Água pura é bom para tudo.

2) Cerveja é gostoso no verão.

3) É necessário muita fé, antes de mais nada.

4) É necessário boa vontade para fazer tal serviço.

5) É proibido entrada de pessoas estranhas.

6) Proibido saída.

7) Proibido carroças na ponte das 7 às 19 h.

8) É proibido animais na enfermaria e no pátio.

9) É preciso qualidades de modelo para ser elegante?

10)É preciso consciência.

Desde que haja a determinação (com o artigo definido ou pronome), a

concordância é exigida, dizem os manuais de gramática. Eu diria que essa

concordância é comum, mas não chega a ser absoluta. Vejamos o mesmo

tipo de frase com o substantivo-sujeito determinado:

1) A água que bebemos é boa.

2) É gostosa essa cerveja.

3) É necessária toda a fé possível para se chegar ao céu.

4) É necessária a boa vontade de uma santa para fazer tal serviço.

5) É proibida a entrada de pessoas estranhas.

6) É proibida a saída antes do término da sessão.

7) São proibidas as carroças na ponte das 7 às 19 h.

8) São proibidos os animais sem dono na enfermaria e no pátio.

9) São precisas as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais.

10)É precisa a consciência de uma criança para ser feliz.

Até o número 8 temos frases usuais, de uso corrente. Mas as construções

9 e 10 soam completamente artificiais.

O que se pode concluir, então, é que no português brasileiro não se costuma

flexionar o adjetivo “preciso” quando anteposto ao sujeito. Nós até flexionamos

seu similar “necessário”, mas não o adjetivo “preciso”, que sempre tem

uma implicação de neutralidade, como vimos na coluna NTL 226.

Comprove-se o fato:

É preciso as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais.

É preciso a consciência de uma criança para ser feliz.

Ou se usa o adjetivo assim no neutro, ou se faz a substituição:

São necessárias as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais.

É necessária a consciência de uma criança para ser feliz.

Nessa esteira, perguntou uma leitora se está correta a concordância nominal

na seguinte frase: Para a implementação

da lei será necessária modificação na estrutura administrativa do Estado.

Sua dúvida é se ela deveria usar “necessário”,

já que o substantivo “modificação” não está antecedido de nenhum artigo

(e não está – explico – porque aí se subentende uma modificação ou alguma/

qualquer modificação).

A frase está correta, sim, pois é possível usar o neutro/masculino singular

nesse caso, mas não obrigatório. Portanto as

duas formas são válidas. Enfim, o que rege esse tipo de concordância é a eufonia

– assunto ainda para a próxima semana.

Instituto Euclides da Cunha

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