terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

VESTIBULAR


Uma menina que tem só 16 anos entrou em nove faculdades de medicina, e um rapaz que está fazendo tratamento de câncer passou em algumas das melhores universidades do país.
O que você faria para estudar na melhor universidade do país? Para dois jovens, o caminho foi ralar muito. “Tirando o tempo que eu dormia e comia, eu estava estudando”, conta Marcela Malheiro Santos, de 16 anos. “Abri mão de sair todo fim de semana, mas eu nunca abri mão, por exemplo, de tocar violão e de conversar com os amigos. Abri mão de algumas coisas, mas não de tudo”, disse Tomás Gallo Aquino, de 17 anos.
Marcela e Tomás são os campeões dos vestibulares de 2011. Com 17 anos e sem cursinho, Tomás passou em primeiro lugar na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), foi o primeiro no curso que escolheu: Física. Na Universidade de São Paulo (USP), a principal do país, foi o sétimo colocado na carreira.
“Um conselho primordial é ter um conhecimento horizontal, quer dizer, conhecimento de um pouco de cada área”, destaca Tomás, que já decidiu: vai estudar na USP. “Se depender de mim, eu não saio da universidade nunca mais”.
Tomás mora em Amparo, interior de São Paulo. Fez o Ensino Médio no Colégio Integrado, particular, em que tinha bolsa parcial. “A gente percebeu que ele tinha um diferencial, porque ele com 3 anos já lia fluentemente sozinho. A primeira vez que ele caiu foi porque ele subiu em uma cadeira pra pegar o dicionário. Não era para fazer uma traquinagem”, lembra Eliane Aquino, mãe de Tomás.
Marcela também é precoce. Desde os 6 anos, os colegas têm dificuldade para acompanhá-la. “Eu atrapalhava um pouco a aula, porque eu já estava alfabetizada”, comenta.
Marcela, que só tem 16 anos, prestou vestibular para Medicina e entrou em nove universidades. Entre elas, a USP, a Unicamp, a Unesp, a Unifesp e a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Escolheu a USP.
“Eu me dediquei bastante aos estudos. Parei de fazer as atividades que eu fazia antes. Eu dançava, fazia balé clássico, balé moderno, jazz e patinei. Parei tudo”, conta.
A futura médica, que também estudou em uma escola particular, o Objetivo, mora em Pirituba, na capital paulista, Que dica ela dá pra quem vai fazer vestibular ainda?
“Fazer vários simulados para controlar o tempo e o nervosismo, porque são muitas questões para você fazer sentada. São cinco horas direto fazendo questão. Então, tem que ter resistência física também”, recomenda.
“Claro que a gente pode treinar, exercitando as capacidades que são exigidas: leitura e elaboração de ideias. Quem consegue entender isso acaba tendo um bom desempenho”, afirma Leandro Tessler, especialista em avaliação da Unicamp.
Thiago Ianner Silva, de 20 anos, ficou dois anos se preparando e até se mudou de Salvador para São Paulo em busca de um sonho: cursar Medicina em uma universidade pública. “Você vai ter que abdicar de algumas coisas na sua vida. Por exemplo, eu não tive namorada esse ano, que é uma coisa difícil de conciliar”, conta.
Na Bahia, Thiago estudou em um colégio técnico federal, uma escola pública. Em São Paulo, fez o cursinho Etapa, que é pago. Por ter avô negro por parte de pai e ser de família de baixa renda, conseguiu vaga pela política de cotas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“A pessoa não pode se apoiar nas cotas para usar como justificativa. Você se apóia nas cotas e fala: ‘Não vou estudar. Com as cotas somente eu passo’. Isso é mentira, não é verdade”, defende Tiago.
Já na USP, não existe cota. O que há é um benefício para escolas públicas que ganham pontos no vestibular. Thiago foi beneficiado, mas nem precisava. Tinha nota suficiente e garantiu a vaga. “Quando eu vi que realmente tinha passado na USP eu disse: ‘Pronto, mãe, agora você pode me dar um abraço que eu sou o mais novo aluno de Medicina da USP’”, contou.
Eduardo Piniano Pinheiro, de 18 anos, já é um vencedor em todos os sentidos. Soube que tinha câncer em um músculo da coxa em dezembro, depois da primeira fase dos principais vestibulares. “Tive que correr para um monte de médico e deixar o vestibular até de lado no primeiro momento, mas depois vi que tinha que fazer e não podia desistir”, afirma.
Eduardo fez três provas de vestibular em uma sala que funciona como um centro de educação dentro de um hospital em Campinas. Ficaram na sala só ele e um fiscal da universidade, com provas que duraram ate quatro horas.
“Achei difícil e estava cansado. Não consegui fazer algumas questões inteiras, porque tinha o nervosismo e tinha um pouco do cansaço da doença”, lembra.
Quando saíram os resultados, veio a recompensa: Eduardo entrou em Direito na USP e em Engenharia da Computação na Unicamp e na Universidade Federal de São Carlos. Ainda não decidiu o curso.
“Não vou poder fazer esse ano por causa do tratamento. Tem bastante internação para a quimioterapia, mas estou bem empolgado para quando puder começar”, comenta.
Eduardo fez colégio particular, o Santa Bárbara, em Bragança Paulista, interior de São Paulo. “Ele está de parabéns. Um garoto que se mostrou muito determinado e que, com certeza, a gente quer fazer de tudo para ele ficar bem”, comentou o médico Marcelo Rizzatti.
No fim do mês, começam as aulas. Para os campeões do vestibular, a determinação agora é para que todo esse sucesso continue.
“Lá dentro você tem que se esforçar de novo, você tem que mostrar suas notas, você tem que fazer bem as provas. O vestibular é só uma etapa que já acabou”, observa Tomás.

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