quinta-feira, 27 de março de 2014

Palavras ou expressões da Língua Portuguesa que nos causam dúvidas

Muitas palavras ou expressões da Língua Portuguesa causam dúvidas ao falante. Isso acontece porque a língua coloquial é uma variante espontânea, que não se detém ao uso das regras, sendo utilizada em situações informais.
Quando o contexto pede formalidade, seja na escrita ou na fala, o adequado é usar a língua culta, que é regida pela gramática normativa (padrão da língua). Entretanto, muitas pessoas desconhecem as regras da norma culta e, por isso, utilizam essas expressões sem o menor critério. 


Risco de vida e risco de morte 

A forma mais precisa é "risco de morte" ou, melhor ainda, "correr o risco de morrer". Mas a expressão "risco de vida" não está incorreta, já que se associa à ideia de colocá-la em perigo. Seu uso está previsto no dicionário Houaiss, que cita a expressão "risco de vida" e é comumente encontrada em textos jornalísticos e literários. O psicanalista Contardo Calligaris, em artigo no jornal Folha de S.Paulo, por exemplo, escreve: "Não há ou não deveria haver prazeres que valham um risco de vida ou, simplesmente, que valham o risco de encurtar a vida".
Ao invés e em vez de
 
Muita dúvida surge no emprego de “ao invés”, “invés” ou “em vez de” e é comum, uma vez que são muito semelhantes na grafia e também no significado.
O termo “invés” é substantivo e variante de “inverso” e significa “lado oposto”, “avesso". Na expressão “ao invés”, o substantivo “invés” continua com o mesmo significado, contudo, é utilizada para indicar oposição a algo ou alguma coisa e, portanto, significa “ao contrário de”. Geralmente vem acompanhada da preposição “de”.
Ex.: A empresa de cobrança ao invés de enviar o boleto, optou pelo débito em conta.
Já a expressão “em vez de” é mais empregada com o significado de “em lugar de”, porém, pode significar “ao invés de”, “ao contrário de”.
Observe:
A menina assistiu à TV em vez de filme. ( não poderá ser usado “ao invés de”, pois não há oposição de termos).
A professora, em vez de diminuir a nota do aluno, aumentou-a (a expressão “em vez de” poderia ser substituída por “ao invés de”, pois temos termos contrários “diminuir” e “aumentou”).
Se “em vez de” pode significar “ao invés de”, como poderemos identificar o emprego de ambas?
A expressão de “em vez de” pode ser empregada em múltiplas circunstâncias, desde que seus significados sejam mantidos. Já “ao invés de” poderá ser aplicada somente quando há termos que indicam oposição na frase, significando “ao inverso de”.

A princípio ou em princípio

PRINCÍPIO significa à primeira vista, inicialmente, primeiramente, de início, no começo: "Achamos, a princípio, que ele estava falando a verdade, mas depois descobrimos que era tudo mentira"; "A princípio eu não sabia nada de internet, mas depois, com o uso, virei um especialista"; "Segundo o Ministério da Saúde, a princípio serão vacinados apenas os idosos, as grávidas e as crianças".

EM PRINCÍPIO significa em tese, em teoria, teoricamente: "Há, em princípio, igualdade entre os homens e mulheres"; "Em princípio, seu raciocínio está correto"; "Em princípio, todos os brasileiros são iguais perante a lei".


História e estória
A palavra estória, comumente aceita como sendo um relato de fatos não comprovados ou fictícios, fora designada para tal fim no início do século XX por um acadêmico brasileiro, mas sem respaldo etimológico.
Etimologistas dizem, no entanto, que tal neologismo é uma frescura estilística, uma vez que, na língua portuguesa, não há razão linguística para adotá-lo, mesmo quando se queira diferenciá-lo de história.
Envolto pela tradição folclorística do termo, o conhecido escritor Guimarães Rosa acabou publicando, em 1962, um livro com o título  Primeiras Estórias.
Aurélio, 4ª Edição, também condena o verbete estória: "Recomenda-se apenas a grafia história, tanto no sentido de ciência histórica, quanto no de narrativa de ficção, conto popular e demais acepções".
Portanto, segundo recomendação etimológica, não se deve usar o termo  estória, mesmo em se tratando de evento fictício.
Erros de português são encontrados inclusive por parte de quem julgamos incapazes de cometê-los.


Ao encontro de e de encontro a

As expressões “ao encontro de” e “de encontro a” são diariamente faladas em jornais, revistas, artigos, em conversas telefônicas, e-mails, dentre outros. Contudo, só não são mais utilizadas pelas dúvidas constantes que geram no indivíduo: qual está correta? como empregá-las? qual o significado dessas expressões?
Vejamos:
Ao encontro de: tem significado de “estar de acordo com”, “em direção a”, “favorável a”, “para junto de”. Exemplos : Meu novo trabalho veio ao encontro do que desejava. (Meu novo trabalho está de acordo com o que desejava.)
Vamos ao encontro de nossa turma. (Vamos para junto de nossa turma)
Essa lei vem ao encontro dos interesses da população. (Essa lei vem a favor, em direção aos interesses da população)

De encontro a : tem significado de “contra”, “em oposição a”, “para chocar-se com”. Exemplos : Esta questão está indo de encontro aos interesses da empresa. (Esta questão está indo contra os interesses da empresa).
A decisão tomada foi de encontro às reivindicações do sindicato. (A decisão tomada foi oposta às reivindicações do sindicato).
O jovem dirigiu bêbado e foi de encontro à árvore. (O jovem dirigiu bêbado e chocou-se com a árvore).

Como podemos perceber, “ao encontro de” tem significado de concordância, de acordo, enquanto que “de encontro a” exprime significado de discordância, de divergência.

Todo e todo o
 
A gramática estabelece uma distinção de sentido entre TODO e TODO O, TODA e TODA A. A diferença semântica reside justamente no uso e na omissão do artigo. Assim, atribui-se a TODO o significado de "qualquer" e a TODO O a significação de "inteiro".

Nas frases seguintes, a diferença é clara: Lia todo livro que encontrasse. Li todo o livro.
No primeiro caso, o pronome indefinido TODO + substantivo traz a ideia de "qualquer", "cada", por isso o sentido é o de que o cidadão lia "qualquer" livro que encontrasse. Por exemplo, a frase "Todo ser humano tem alma" representa o conjunto dos seres em questão, daí podermos dizer que o uso do singular (TODO = qualquer) tem valor de plural (TODO = totalidade), o que Bechara chama de "totalidade distributivamente de um conjunto plural".
No segundo caso, o adjetivo TODO + O + substantivo tem o sentido de "inteiro", "completo"; assim, o sujeito leu o livro "inteiro". Está implicada uma ideia de integralidade, daí o artigo ser obrigatório.

Onde e aonde


São palavras que indicam lugar, entretanto, é preciso entender algumas particularidades. Acompanhe:
 
1 - Onde: pode ser pronome relativo (quando introduz uma oração subordinada adjetiva) ou advérbio interrogativo (frases interrogativas). Em ambos os casos, indica localização. Entretanto, quando for pronome relativo, poderá ser substituído por “em que”, o que não acontece quando é um advérbio. Além disso, quando for pronome relativo, fará parte de um período composto, ou seja, terá pelo menos duas orações, já que as orações adjetivas compõem um dos tipos do período composto por subordinação;
2 - Aonde é um advérbio, entretanto não deve ser utilizado quando a ideia for de lugar, no sentido de localização, mas quando transmitir a ideia de movimento.  Portanto, preste atenção aos verbos, pois os que indicam movimento, tais como: ir, chegar, dirigir, entre outros, pedem o uso de “aonde”. A gramática normativa orienta o uso de “onde” e de “aonde” conforme descrito acima, entretanto, na linguagem coloquial, não há essa preocupação e essas palavras são usadas na maioria das vezes como sinônimas.

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