O hífen nunca foi moleza pra ninguém. Pequeno, ágil, driblador, o tracinho é matador, hu-hu, terror, o hífen é matador.
Um dos melhores marcadores de hífen no Brasil, o super-respeitado Evanildo Bechara declarou certa vez a uma emissora de rádio que o hífen era sobrecarregado de tarefas.
Em outras palavras, o grande gramático estava afirmando que ao hífen atribuíram (quem?) mil e uma funções. O tracinho cobrava escanteio e ainda corria pra cabecear.
Algo precisava ser feito.
A Reforma Ortográfica que entrou em campo no Brasil em 2009 deu uma colher de chá determinou, ora bolas, que o hífen não cobraria mais escanteio.
Em compensação, o polivalente teria de subir mais alto na área para o cabeceio.
Seria, mal comparando, como se o Nedo Xavier, técnico do querido e idolatrado Fortaleza Esporte Clube, chamasse o baixinho Cleo Cambalhota e dissesse: A partir de agora, você não bate escanteio, vai ficar no primeiro pau, pronto para o jogo aéreo.
Resultado: vida de hífen continua difícil. Mas vejamos hoje ao menos um jogo-treino.
A sequência substantivo + substantivo é normalmente intermediada por algum vocábulo de conexão. Os locutores (na época do futebol romântico) diziam, por exemplo, que o jogador subiu mais alto para cabecear o balão de couro, nunca antes na história se ouviu, nem haveremos de ouvir, aposto, para cabecear o balão couro, evidentemente.
Pois é aqui onde a coruja dorme. Uma das tarefas do hífen é estabelecer a união entre dois substantivos, substituindo a preposição (aqui fora de combate com dores na barriga da perna, que perdeu dois hífens numa dividida ortográfica no mínimo maldosa).
Assim, um vale para transporte é o mesmo que um vale-transporte; um tíquete para refeição é um tíquete-refeição. Mas o governo federal foi o primeiro a cuspir no prato em que comeu, e temos no papel e na prática (?) programas para todos os gostos:
Auxílio Gás, Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Bolsa Família, Cartão Alimentação, Vale Gás, entre
outros, sempre e inexplicavelmente sem o tracinho de união.Vou deixar a dica: há muito existe à disposição de ricos e pobres o programa Vale-Hífen. Pouco usado em Palácio, ele continua vivo, não foi queimado na Reforma, creia.
Então, camaradas redatores, uni-vos. Redator unido jamais será vencido. Não deem bola para a governança, ela quer cobrar escanteio e cabecear o balão de couro, é demais.Vou mostrar o que podíamos ter, se déssemos bola à ortografia oficial: Auxílio-Gás, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola, Bolsa-Família, Cartão-Alimentação, Vale-Gás.
Em tempo!
Há um caso distinto do visto até aqui em que o segundo substantivo, funcionando como verdadeiro adjetivo, pode não vir obrigatoriamente ligado ao primeiro por meio do hífen: carreata gigante (carreata gigantesca), aluno prodígio (aluno prodigioso).
Vale dizer também que a luta continua, vou ver o jogo-treino do Leão. Um abraço.
Por Orlando Nunes
Auxílio Gás, Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Bolsa Família, Cartão Alimentação, Vale Gás, entre
outros, sempre e inexplicavelmente sem o tracinho de união.Vou deixar a dica: há muito existe à disposição de ricos e pobres o programa Vale-Hífen. Pouco usado em Palácio, ele continua vivo, não foi queimado na Reforma, creia.
Então, camaradas redatores, uni-vos. Redator unido jamais será vencido. Não deem bola para a governança, ela quer cobrar escanteio e cabecear o balão de couro, é demais.Vou mostrar o que podíamos ter, se déssemos bola à ortografia oficial: Auxílio-Gás, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola, Bolsa-Família, Cartão-Alimentação, Vale-Gás.
Em tempo!
Há um caso distinto do visto até aqui em que o segundo substantivo, funcionando como verdadeiro adjetivo, pode não vir obrigatoriamente ligado ao primeiro por meio do hífen: carreata gigante (carreata gigantesca), aluno prodígio (aluno prodigioso).
Vale dizer também que a luta continua, vou ver o jogo-treino do Leão. Um abraço.
Por Orlando Nunes
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